segunda-feira, 13 de junho de 2011

Antônio de Pádua: uma vocação esquecida devido à superstição.


É costume, principalmente pelos fiéis brasileiros e portugueses, comemorar no mês de junho o dia de Santo Antônio, nascido em Lisboa, no dia 15 de agosto de 1191 (1195), um dos santos mais admirados e conhecidos por esses dois povos.

Fernando de Bulhões ou simplesmente Antônio de Lisboa / Antônio de Pádua ingressou na ordem religiosa fundada por São Francisco de Assis no verão de 1220, querendo imitar a vida dos grandes mártires da Igreja. Depois de entrar nessa ordem, Antônio ficou muito doente e teve que ser enviado novamente a Portugal. No caminho de volta à terra natal, ventos muito fortes levaram seu navio até a região da Sicília (Itália), onde na ocasião conheceu o fundador da ordem da qual ele fazia parte, Francisco de Assis, e foi convidado para pregar no Capítulo Geral da Ordem, que começou a 20 de maio de 1221, em Assis.

Antônio, mesmo com a saúde fragilizada, combateu os hereges em várias cidades europeias, tais como: Montpellier, Toulouse, Lê Puy, Bourges, Arles e Limoges (cidades localizadas ao sul da França). Entre os vários milagres realizados por ele e episódios importantes de sua vida, por uma lenda que comenta que o Santo ajudava as donzelas pobres a conseguirem casamento. Por essa razão, no mês de junho, muitas mulheres solteiras, e também muitos rapazes, costumam fazer “simpatias” envolvendo o nome deste grande santo para "conseguirem" um relacionamento. Entre elas as mais tradicionais são tirar o Menino Jesus dos braços desse santo e escondê-lo ou colocar sua imagem de cabeça para baixo.

Na verdade, Santo Antônio é um dos maiores oradores da nossa Igreja, obtendo o título de Doutor Evangélico devido à grande eloquência, sabedoria e profundo conhecimento da Palavra de Deus. Entretanto, acabou tendo sua vocação original renegada, reduzida ou, simplesmente, esquecida em função da superstição popular. Assim o homem que em vida lutou para evangelizar como poucos, hoje é simplesmente lembrado como o “santo casamenteiro”.

Vale lembrar que entre os milagres realizados pelo santo franciscano está o milagre de falar com os peixes, quando a população lhe deu as costas diante da sua pregação da Palavra de Deus. Antônio é também lembrado por muitos fiéis por suas pregações dominicais, nas quais nunca teve medo de falar e exortar em nome de Cristo. 

Será que hoje entendemos o real significado da Missa dominical e das que são celebradas todos os dias da semana em nossas comunidades? Será que simplesmente ir à Santa Missa e participar da liturgia da palavra e do banquete da vida, através da Eucaristia, já é o suficiente para vivermos realmente como bons cristãos? O grande sacrifício Eucarístico, vivido e celebrado em nossas comunidades, deve ser o início e o fim de uma vocação a qual todos são chamados: levar o Evangelho a todos os lugares do mundo (cf. Mc 16,15). Portanto, quando saímos da Missa ou da Celebração da Palavra, temos o dever de ser missionários do Evangelho, levando a Boa Nova do Senhor para todas as gentes, que nos foi anunciada e independe de qualquer conflito ou circunstância, vivendo plenamente a nossa condição de batizados.

Antônio pregava em um tempo em que os hereges eram bem mais violentos e numerosos que os da atualidade, mas nunca desistiu de evangelizar e, devido a essa sua postura, foi muitas vezes colocado à prova. E você? Será que também está sendo colocado à prova neste momento? Jesus fala aos discípulos: “Avança para águas mais profundas, e lança as vossas redes para a pesca” (Lc 5,4) e eles pescam uma grande quantidade de peixes. Precisamos, sim, jogar nossas redes para mares mais profundos, lembrando também o milagre de Santo Antônio, quando os peixes vão à margem “ouvi-lo” pregar a Palavra de Deus. Concluímos assim, com ambos os milagres, que o que deve mover a nossa evangelização é o próprio Cristo, a Palavra de Deus Encarnada no nosso meio (cf. Jo 1,14), independente das circunstâncias serem favoráveis ou não.    
      
Cristo e Santo Antônio ensinam-nos que devemos amar os nossos irmãos que estão ao nosso lado, mesmo que estes não nos amem, conquistando assim o seu respeito, a sua atenção e, consequentemente, o seu amor. E a melhor forma de conquistar esse amor é sabendo dialogar com eles, levando o Evangelho de uma forma amiga e não impositiva ou ofensiva, pois, como nos ensina a Igreja, o próprio Deus fala a nós como amigos (Dei Verbum, 2).

Vivamos como Antônio e não nos esqueçamos de que ele intercede a Deus pelas nossas súplicas e pedidos; no entanto, lendas e superstições não eram, não são e nunca serão práticas cristãs autênticas ou maduras, pois a verdadeira prática cristã é a oração e a confiança no Senhor (cf. Jo 16,24).          
 
E toda a oração deve levar-nos a uma ação concreta, a exemplo de Fernando de Bulhões, que deixou tudo para imitar a vida dos mártires, em nome de um sonho: o de levar o EVANGELHO DO MESTRE aos corações duros e infiéis.

Que possamos colocar em prática uma das frases de Antônio de Pádua: "Ó meu Senhor Jesus, eu estou pronto a seguir-te mesmo no cárcere, mesmo até a morte, a imolar a minha vida por teu amor, porque sacrificaste a tua vida por nós".

  

Texto de : Kleber Cardozo – Produtor da TVCN
                Marcos José Correia – Seminarista da Diocese de Guarulhos