terça-feira, 5 de julho de 2011

O Julgamento


O amanhecer daquele dia chegará mais cedo do que dos outros cinquenta anos em que vivi sobre aquela luz cinza irradiada pelo sol. As nuvens brancas não tinham mais os mesmo formatos hostis de outros dias. Notei que a viagem deveria ser definitiva. Eu finalmente poderia desfrutar do pouco tempo que ainda me restava. Foi quando fechei os olhos, e uma lágrima incomum escorreu dos meus olhos seria remorso ou felicidade, seria mesmo que Thanatos havia ouvido minhas preces, onde ele estaria neste exato momento.
Em um piscar de olhos me veio toda aquela jornada que haveria de estar cumprindo neste momento. Minha consciência martelava pela melhor forma de vingança: recusar-me a pagar a viagem ou contribuir e deixá-lo ir a julgamento o mais rápido possível.
Naquele momento lembrei-me de toda uma tradição que descrevia um rio onde suas águas eram completamente negras e densas, cobertas por uma nevoa avermelhada, onde corpos de pessoas desesperadas boiavam. Este mesmo rio sempre tinha suas margens cheias de pessoas à espera de um barqueiro ganancioso que demorava a chegar. Não me custaria muito ajudar com que pagasse essa passagem só de ida, mesmo porque há pouco ele acabará de deixar para trás toda sua esperança.
Seria melhor contribuir com as moedas de prata e deixá-lo se perder naquele gigantesco lugar sem perspectiva de crescimento para que pagasse por todos esses anos em que vivi sobre as rédeas duras desta sociedade machista e humilhante.
Mais uma lagrima cairá de meus olhos e naquele exato momento tive a certeza de que ele adentrará a primeira prisão e seu julgamento demoraria a findar-se uma vez que várias poderiam ser as prisões, vales ou fossos que caberiam a ele. Minha torcida era por uma pena que durasse uma eternidade, a companhia rápida de Cérbero, depois de uma longa caminhada sobre aquela chuva que desgastava a pele deixando um cheiro de cadáver em decomposição no ar seria pouco, sua viagem deveria ser muito mais cansativa, para que seu sangue se renovasse dia após dia, para abastecer a gigantesca cachoeira vermelha existente naquele lugar. Sua viagem infinita deveria ser mais longa, o juiz deveria encaminhá-lo talvez para o primeiro vale, onde ele se banharia em um lago criado por todas as lagrimas de sangue que derramei por sua causa, ou melhor, o juiz seria mais justo se lhe apresentasse o nono fosso onde as pessoas são retalhadas e seus sangues cobrem as paredes negras tingidas por uma camada de sangue seco.
Ao abrir s olhos tive a certeza que não sonhava o rabecão realmente estava ai, e seus restos mortais eram tratados como ele merecia um monte de nada que vai para lugar algum, pagar por coisa nenhuma em um lugar onde a lei dos mais fortes que sempre insistiu em colocar em prática será vivida de forma aterrorizante na eternidade do esquecimento. Era a certeza de que ele chegará primeiro que eu ao mundo dos mortos.

Antes que falem, que eeu estou deprimido, ou vingativo, deixa eu explicar: esse texto foi um exercicio realizado na aula de Redação em Televisão, no terceiro ano de faculdade. A proposta era fazer um texto, onde uma senhora sofredora, se despedia de seu falecido esposo, que fez sofrer toda uma vida matrionial.