domingo, 21 de setembro de 2014

O encontro pessoal

Naquela noite toda, eu tentei me concentrar no mundo dos sonhos, mas os primeiros raios de sol surgiam no meio daquelas nuvens cinzas que refletiam a incerteza da minha mente que estava em guerra com meus sentimentos.
Sentei na beira da cama, os livros ainda estavam abertos sobre a escrivaninha, ao lado talvez a minha única saída, um velho estilete enferrujado.
O vazio tomava conta de mim e o medo tinha perdido espaço para minha desilusão amorosa, nada mais tinha sentido a não ser dar fim em algo que jamais deveria ter começado: minha vida.
Ainda despido, levantei, caminhei até a sacada do apartamento, a vista do décimo andar para alguns poderiam dar vertigem, mas para mim naquele momento dava vontade de mergulhar para o nada, para um lugar de onde nunca voltaram para contar como era. Achara ali uma segunda opção além daquela que me esperava na escrivaninha. Foi neste momento que algo inexplicável ocorreu, minha consciência me questionava.
- Ei pare, feche os olhos e lembre-se de todos os bons momentos que te trouxeram até aqui!
- Como assim? Se você está aí, sabe muito bem que nada foi fácil até hoje, eu sempre confio demais, me entrego demais e ganho de menos.
- Sei, sempre que estava prestes a tomar todas suas decisões, eu sem poder opinar, estava ali pronto para te aceitar.
- Você está louco? Sempre estive sozinho, abandonado, isolado sendo obrigado a ter que agir para sobreviver em vez de viver.
- Não fale assim, sempre estive do seu lado, mesmo quando você me ignorava, mesmo quando achava que era o dono da razão e a única pessoa do universo. Nunca te deixei um segundo.
- Não importa, já tomei minha decisão.
- Pense o um é tudo e o tudo é um, queres mesmo acabar com algo tão precioso.
- Precioso? Minha vida não vale nada, ninguém é capaz de me compreender, de me amar ou até mesmo de me querer.
- A vida é um ciclo, pense nisso, será que você não é capaz de compreender que o mundo está para você como você está para o mundo.
- Não fale besteira, as pessoas são mesquinhas só pensam nelas mesmas. Estão sempre dispostas a trapacear, a roubar, a iludir e até mesmo a matar. Como querer viver em sintonia com pessoas assim?
- Então, agora você me entende?
- Devo estar louco, estou falando comigo mesmo e mesmo assim não me compreendo.
- Calma! Se as pessoas são mesquinhas, me diz você, tirando sua vida não estaria agindo igual? Digo mais, você está tentando trapacear as minhas vontades, roubar meus desejos e desvalorizando o que não deveria ser desvalorizado.
- Espere, quem realmente é você? Por que está em minha mente? Por que surgiu agora do nada?
- Você já respondeu! Eu sou o tudo e o nada, eu sou a sua mente, mas não sua consciência, eu sou seu apoio, mas não suas escolhas.
- E o que você quer de mim?
- Não te quero, eu quem te criei, eu quem te fez único e perfeito. Como te disse o um é tudo e o tudo é um.
- Você é um espírito?
- Não, eu sou o tudo, mas o nada ao mesmo tempo. Como te disse, o um é tudo, eu sou este tudo, estou em tudo, mas esse tudo sem o seu eu, me faz ser o nada. Sua vida é mais do que um monte de lembranças boas ou ruins, é meu equilíbrio e sem você sou como um ciclo  que se quebra.
- Está dizendo que a minha vida é uma peça de quebra-cabeça?
- Não! Estou afirmando que tudo tem sua hora e seu momento e que você entenderá se souber esperar.
Foi neste momento que a campainha tocou e tudo voltou a ser como antes. Eu, a sacada de um lado e o estile do outro. Então voltei a sentar na cama nu enquanto a campainha ainda tocava, e eu a ignorava.
Então pude compreender, que aquela lâmina enferrujada simbolizava a minha vida velha, o fato de estar despido que era preciso me livrar do que me cobria os olhos e a sacada refletia a necessidade de voar e nunca desistir. Pois o mais sagrado que existe é o DOM DA VIDA e que não pode ser desperdiçado, é sublime, é inexplicável, é simplesmente DIVINO.