quarta-feira, 4 de maio de 2016

Contracorrente: uma vida de medos

O ser humano nada mais é do que recipiente de valores, sentimentos e rótulos. O homem criou modos de classificar o que se sente, como se comportar, como viver moralmente, mas esqueceu de aprender que não pode existir normalidade em um mundo que  grita por equidade. Criou meios de não se questionar essa normalidade transcrevendo verdades absolutas e transcendentais.

Soprou-se vida onde só existia barro, moldou-se crenças para que não criticarem sua autenticidade . Fez com que o “certo” torna-se normal sem se pensar que na padronização se mata a subjetividade e que dentro deste recipiente explode um universo de ondas que carregam muitas vezes para um porto seguro construído em arreia.

Um espaço como Shopping Center que vende a falsa sensação de conforto e proteção. Uma auto afirmação de algo que não somos capazes de compreender.

Travamos batalhas sem soldados, sem cavalos, sem arco e flecha e pior sem inimigos. Lutamos contra valores impostos, rótulos exigidos e sentimentos alimentados pela incompreensão.

Nadamos contra maré do que deveria nos fazer feliz, mas o que nos faz realmente feliz? Sinto que somos grande lagos de água salgada que vaza em gotas homeopáticas para não ferir a realidade que não é real. Nos aprisionamos em zonas perdidas em um espaço carregado do mais inexorável ébano, que nos impede de enxergar a própria essência.

Não na verdade nos trancafiamos em mundos criados pelo medo. O pavor de se sentir desnudo cria a angustia, alimenta a necessidade de amores impossíveis e da solidão simulada como vacina.

Vivemos consumindo canções que dizem o que na verdade nem sabemos o que quer dizer ou que dizem o que não temos coragem de viver “Eu que teria vivido com você / Na sua estrangeira cidade / Sozinho com instinto de quem sabe amar / Sozinho, mas com você / Não posso mais me dividir entre você e o mar / Não posso mais ficar cansado de tanto esperar ...  Laura Pausini - Tra Te E Il Mare. Alimentamos sensações vividas pelos outros por medo de viver a nossas próprias.

Isso por receio de gritar o que somos, o que queremos e o que pretendemos. Nos mortificamos com laminas que na verdade apenas nos fazem sangrar onde homem nenhum é capaz de chegar, ou seja, vertemos na alma. Isso é se ela realmente existe e se não é parte de uma realidade irreal, mandatória de uma moralidade encubada pelo ética que rege a humanidade cada vez mais perdida de seus valores.

Prisões sem paredes cercam as chances de viver, de respirar e de ser feliz. Escrevemos paginas hipotéticas, para não transcrever nossas suplicas reais.

E a vida escrita ao longo dos anos nada mais é que anos perdidos que se aproximam de uma ruptura que talvez nunca vá acontecer.