segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A ASCENSÃO DO ANIMÊ: ANIMÊ VERSUS CARTOON.



A ASCENSÃO DO ANIME: ANIMÊ VERSUS CARTOON.
Kleber Rodrigues Cardozo
Projeto apresentado à disciplina de Projeto de Pesquisa em Rádio e Televisão a Profª Laura M Barcha G. Del

APRESENTAÇÃO:
                                               
Acostumados com a cultura americana desde o advento da televisão no Brasil, sempre assistismo aos desenhos animados americanos e muitas vezes sentimos a necessidade de analisá-los para verificar os valores que transmitem às crianças. Para verificar quais valores e de que forma são transmitidos.
Este estudo procura por meio das análises do desenho Pica-Pau e do animê¹ Os cavaleiros do zodíaco, mostrar a questão da violência nos desenhos.
 “Os Cavaleiros do Zodíaco” foi o responsável pela massificação na década de 90, dos animês em todo Brasil, quando era transmitido na extinta Rede Manchete (atual Rede TV!) que já trabalhava há muito tempo com o formato super sentais².
A cultura animê tem sido marginalizada e tachada de violenta, críticas essas feitas por pais e adultos que não têm conhecimento das histórias e de suas morais. Um dos motivos desse preconceito pode ser o fato de que as culturas quando são massificadas acabam sendo mal compreendidas.
Este trabalho vai apresentar um pouco da origem dos animes (os mangás de onde são inspirados), suas ideologias, e mostrar que a violência sempre esteve presente nos desenhos americanos, mas que não sofreram os mesmos preconceitos que os animês. E que a violência é encontrada em ambos os desenhos animados, porém a contextualização é a grande diferença.
Por meio de pesquisas bibliográficas como: revistas; sites; artigos e livros e de Os Cavaleiros do Zodíaco, tendo como autora principal Rosália Duarte. Será mostrado que os animês são obras audiovisuais produzidos em seu país de origem e que carrega ideologias na maioria das vezes não compreendida.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.

Um dos males da vida do homem pós-moderno é a massificação cada vez mais rápida das culturas. Acostumado às mensagens quase em tempo real disponibilizadas pelos meios midiáticos, o homem na maioria das vezes não busca mais fazer pesquisas detalhadas sobre o que lê ou vê.
O sucesso que as notícias curtas fazem na sociedade atual leva as pessoas a julgamentos errôneos sobre muitos assuntos, isso porque é mais cômodo assimilar as notícias rápidas.
O grande problema é quando essas notícias vazias de conteúdos chegam ao mercado e marginalizam uma cultura pelo simples fato de não ser estudada profundamente.
Esse pouco caso acaba fazendo dos meios midiáticos um propagador de preconceitos, sendo a TV o meio mais acessível na sociedade pós-moderna, a grande vilã. E sobre este meio existem várias discussões como: a TV deve se preocupar em educar ou entreter? O fator se agrava mais ainda quando o assunto envolve a criança!
A televisão é um meio de comunicação discutido por muitos professores nas salas de aula, mas o que pode prejudicar a introdução a esse ambiente é o fato que alguns adultos não buscam estudar profundamente os programas para discutí-los.
            A TV hoje já não é mais vista como a “babá eletrônica”, porém uma pesquisa realizada pelo Ipsos  (O grupo Ipsos é um dos lideres globais no fornecimento de pesquisas de marketing, propaganda, mídia, satisfação do consumidor e pesquisa de opinião pública e social.) em dez países mostrou que 57% dos entrevistados (500 pessoas) deixam os filhos assistirem à televisão pelo menos três horas diariamente. O que mostra que a TV foi e ainda é uma fonte de informações, entretenimento e de formação de valores na criança, conforme mostra a pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa em Educação e Mídia (GRUPEM), veiculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-Rio e publicada no livro “A televisão pelo olhar das crianças” onde a organizadora do livro afirma:

As crianças percebem que a televisão coloca para os telespectadores questões relacionadas ao comportamento moral. Para elas, a televisão tanto ensina a fazer o certo, quanto o errado, a ser justo e também a ser injusto e cruel, mostra o bem e também o mal, ensina a ter educação e a ter respeito pelos mais velhos, ao mesmo tempo em que influência muito a violência. (Duarte, 2008, p. 104)

Não dá mais para acreditar que as crianças são pacificamente afetadas pela agulha hipodérmica, pois elas já são capazes de analisar a TV e ter algumas opiniões sobre esse meio midíaticos como afirma:

as crianças relacionam informação, cultura e entretenimento como sendo os bens de consumo mais importantes a que têm acesso por meio da televisão e muitas acham que a televisão deveria se empenhar em melhorar a educação. A referência ao que aprendem através de programas educativos é pequena, mas a noção do papel educativo da televisão é bastante significativa. Há quem acredite ser possível, por meio da televisão, acabar, ou pelo menos diminuir o impacto do analfabetismo no Brasil: A televisão é muito importante para a pessoa que não sabe ler e escrever. (Duarte, 2008 p. 133).

A TV, então, não pode ser encarada como um inimigo mortal das pessoas e, principalmente, das crianças.
A maioria dos adultos acredita que a TV trabalha com temas “idiotas” e que as crianças não são capazes de distinguir o que é “idiota” ou não, mas para a autora Itânia Maria Mota Gomes esse é um conceito errado: “que a TV tenha programas idiotas, até a própria criança percebe” (GOMES, [199-?], p.6).
O que poderia talvez mudar o conceito de “TV idiotizante” mencionada por Itânia Gomes, seria um bom estudo não só da TV, mas de todos os meios midiáticos.
Usar dos meios para educar ao mesmo tempo em que entreter seria o ideal. Ver as crianças não como uma peça no campo publicitário, mas como o futuro da nação.
No Brasil alguns municípios notaram que podem ensinar através das histórias em quadrinhos, “em 2000, a Prefeitura de São Vicente trabalhou uma série de quadrinhos contando a história de como os primeiros portugueses povoaram a região” (Luyten, 2005, p. 116). Um grande passo no tratamento da educação infantil, ou seja, se faz necessário levar a informação a elas de uma maneira que possa agradá-las.
No Japão, há muito tempo, essa preocupação de como levar a informação e os valores sociais e culturais vem sendo trabalhada através dos mangás e dos animês. Meios midiáticos acessíveis para o público infanto-juvenil e que falam a linguagem deles.
Para muitos, os mangás são apenas produtos massificados, que geram fontes financeiras que movimentam milhões, não só no Japão, mas no mundo todo. Entretanto, não analisamos a fonte de origem destas obras, ou seja, os mangás são produzidos para o público japonês e, por lógica, estão carregados de valores morais daquele povo.
Para o povo japonês, superheróis não são aqueles que têm superpoderes, são pessoas comuns que lutam para alcançar todos os seus objetivos, que possuem falhas humanas e também sofrem as consequências de seus atos. Entre os vários fatores que diferenciam os desenhos de heróis ocidentais dos orientais, é que em um os vilões morrem e no outro eles apenas apanham e estão prontos para novas maldades que permanecerão em outros capítulos ou episódios.
É este o ponto errôneo quando falamos de assimilar culturas em um mundo globalizado, ou seja, temos a tendência de criticar o que é novo e o que choca. A TV brasileira desde seu advento nos leva a assimilar a cultura norteamericana por meio de seus cartoons e desde então é assimilado uma cultura que não é a regional, mas que acabou sendo aceita com naturalidade.
Esse fato faz com que vários desenhos animados produzidos nos Estados Unidos e que fazem uso da sátira a violência como: a primeira fase de Tom e Jerry, A turma do Pernalonga, e o alvo dos críticos Pica-Pau. Este é defendido por seu criado Walter Lantz que afirma: “ninguém sangra ou morre nesse desenho animado. Se alguém fica todo furado voltará ao normal na última cena” (FAUSARI, apud GOMES [199-?]). Por sorte muita das crianças conseguem distinguir o que é ficcional e o que é real, assim também pensa Gomes ([199-?], p. 6) “do mesmo modo, da constatação de que um programa é violento não decorre que a criança que o assista tornar-se-á violenta. O que se tem hoje, como ponto definitivo, é que a influência da TV no comportamento agressivo da criança é um tema de controvérsia”.
Em pesquisa realizada por alunos de comunicação social com habilitação em Rádio e TV apresentada em um projeto de iniciação científica realizado no ano de 2008, constatou se que 65% dos entrevistados eram favoráveis à atitude do Governo de mutilar cenas de animês, pois seria uma demonstração de cuidado com a formação psicológica das crianças.
Os efeitos que a TV tem sobre os comportamentos infantis servem de questionamento para vários profissionais sejam eles; psicólogos ou comunicólogos. Um desses questionamentos é se a criança sabe ou não distinguir o que é real do que ficcional, Duarte (2008, p. 162), nos dá essa resposta: “as crianças afirmaram com muita convicção que há dois tipos de violência na tevê: uma é "real”, aquela que está presente nos telejornais e em programas policiais, outra é de “mentira”, a dos desenhos animados, principalmente os animês”.
De acordo com Duarte (2008), pode-se notar que para a criança a violência mostrada nos telejornais e nos programas policiais é considerada “violência real”, ou seja, a que mais se aproxima das usadas nos desenhos americanos como Pica-Pau, Pernalonga, Tom e Gerry entre outros. Para as crianças a violência representada por raios imaginários ou poderes ocultos que alguns superheróis ou vilões tem são consideradas “violência de mentira”.

ANIME OU ANIMÊ, UMA EXPOSIÇÃO DA CULTURA JAPONESA.

Anime ou animê; derivação inglês animation foi usado pela primeira vez na década de 50; (Luyten, 2005, p. 32) é o nome dado a todas as animações japonesas; mas no Japão animê é o nome dado a todas as animações independentemente de ser japonesa ou não. Tem como idealizador Tezuka Ossamu, responsável pelo sucesso do mangá. Ele levou algumas de suas obras para a TV, entre elas Astro Boy, que foi o precursor dos animês no mundo todo. No Brasil, entre outros sucessos do autor, temos também “A princesa e o Cavaleiro”.
Na internet, os fãs de animês apontam que a primeira animação japonesa ocorreu no ano de 1958 com o curta “Hakujaden” (A lenda da serpente branca), mas historiadores afirmam que os primeiros curtas metragens japoneses foram criados por Seitaro Kitayama, em 1913, mas foi somente a partir de 1927 com Yasuji Murata, que o Japão passou a usar o modelo americano de 24 imagens por segundo (Luyten, 2005, p. 30).
O Japão ganhou o mundo há vários anos com grandes obras que na época chegaram a ser consideradas de alta tecnologia, com Godzilla criado no ano de 1954, e anos depois usando os mesmos efeitos surge no ano de 1966, a saga de “Ultraman”. Nesse estilo o Brasil assistiu a todas as sagas da família Ultra; ainda Jaspion; Jiraya; Laion Man; Robô Gigante; Black Kamen Rider, entre outros. Geralmente divulgados pela extinta TV Manchete.


Outro formato das TV japonesas que conquistou o país foi os “super sentais” que no começo chegava ao país em suas formas originais, como Goggle V, Change Man, Mask Man e Flash Man.
A partir do ano de 1993, a empresa americana Saban passou a comprar os direitos dos sentais e surge, então, a série Power Rangers, primeiramente criada a partir das imagens do sentai Jyuranger (Esquadrão dinossauro). A distribuidora passa a usar imagens dos sentais originais adaptando as histórias aos padrões americanos e vendendo-os diretos a outros países. O sucesso dos Power Rangers gerou outras adaptações que não renderam os mesmos lucros à distribuidora. Apenas por caráter de curiosidade, na versão original do primeiro ano da série, o esquadrão era composto por quatro homens e uma mulher, e no americano por três homens e duas mulheres, o que dava para se notar nos uniformes. 
Assim os animês fazem sucesso mundialmente graças a seus traços e suas temáticas e principalmente por trabalhar como se fossem uma novela, ou seja, seus episódios são entrelaçados e sequenciais, alguns deles marcaram presença nas telas brasileiras. Na década de 90 temos: Astro Boy; A princesa e o cavaleiro; Fantomas, Speed Racer; Menino Biônico; Don Drácula; Patrulha Estelar; Akira e Zillion. Mas os animês nunca foram vistos como um gênero de grande importância pelas TVs brasileiras. Eles são tratados como “tapa buracos” na programação, e foi exatamente em uma dessas lacunas em que foi encaixado o maior sucesso dos animês japoneses já divulgados no país.
Na década de 90, com uma parceria e sem contrato de imediato, foi ao ar na extinta TV Manchete, “Os cavaleiros do Zodíaco” do criador Masami Kurumada. A princípio Seiya e seus amigos conquistaram as grades da emissora atrás de um acordo publicitário para vender seus bonecos, mas o sucesso foi tão grande que a emissora comprou os direitos da obra, que foi na época traduzida cheia de erros de tradução.
Os Cavaleiros do Zodíaco, ou simplesmente CDZ, como é conhecido pelos otakus” (fazer nota roda pé), (conhecedores fanáticos de um determinado assunto incomum, obtuso ou complexo) foram os responsável não só por elevar o IBOPE da emissora a “uma média diária de 7 pontos” (Revista Veja, 1994), como foram também os responsáveis por outro meio midiático que conquistou crianças, adolescentes, jovens e alguns adultos, as revistas voltadas para a divulgação de animês, cinema, HQ (fazer nota roda pé), mangás entre outros produtos direcionados ao mundo dos heróis. 

Depois do sucesso de CDZ que abriu as portas para animação japonesa no país, os brasileiros tiveram acesso a outros animês como: Shurato; Samurai Warriors; Street Fighter V; As Guerreiras Mágicas de Rayearth; Sailor Moon; Yu Yu Hakusho; Dragon Ball; Samurai X; Digimon; Pokemom; Yu Gi Oh; Fullmetal Alchemist; As meninas super poderosas (versão animê); Naruto, entre outros que atualmente podem ser assistidos pelo canal por assinatura Animatrix.
Os mangás e os animês foram os responsáveis por divulgar ao mundo um Japão diferente daquele aristocrático e histórico, que a população mundial estava acostumada a ver.
Para mostrar que os animês são uma forte fonte de incentivo à leitura e também uma fonte de inspiração que transmite valores morais para as crianças e não apenas a violência, o desenho Os Cavaleiros do Zodíaco posteriormente será comparado ao desenho animado do Pica-Pau. Uma vez que o desenho é tido como um desenho que não contém violência aparentemente.

OS CAVALEIROS DO ZODÍACO

Titulo: No original Saint Seiya em português “Os Cavaleiros do Zodíaco”.
Emissora: Extinta TV Manchete na década de 90 e recentemente (buscar data) na TV Bandeirante.
Duração: 25 minutos por episódio.
Criação de: Masami Kurumada.
Ano de criação: 1986
Protagonistas: Saori Kido (Deusa Atena), Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun, Ikki, Aoilios (Cavaleiro de Sagitário), Ares (Cavaleiro de Gêmeos), Kiki, Marin, Shina, Mestre Ancião (Cavaleiro de Libra) e Mú de Áries personagens principais que aparecem na primeira fase e têm destaque ou são mencionados em todas as sagas (fases).
Gênero: Animê
Número de episódios: 114 episódios da série clássica (Santuário, Asgard e Poseidon) e 31 episódios da Saga de Hades (Santuário, Inferno e Elíseos)
Total de Filmes: três curtas metragens e dois longas metragens e uma nova temporada chamada The Lost Canvas (ainda em produção).

SINOPSE: CAVALEIROS DO ZODÍACO.

Em uma visita à Grécia, o milionário japonês Mitsumasa Kido, recebe das mãos de Aiolos, cavaleiro de Sagitário a armadura de ouro de “Sagitário” e também a reencarnação de Atena. Mitsumasa é incumbido pelo cavaleiro de guardar o segredo sobre a reencarnação da pequena Deusa Atena e a assume como sua neta, e a batiza com o nome de Saori. Para defender a reencarnação de Atena, ele recruta cem garotos órfãos e os manda para variados lugares do mundo, e espera que eles retornem como cavaleiros de Atena.
Com a morte de Mitsumasa Kido, Saori assume a Fundação Graad e promove um grande torneio entre os dez órfãos que conseguiram se tornar cavaleiros de bronze. Mas o torneio é interrompido quando Ikki (Cavaleiro de Fênix) a mando do Ares mestre do santuário é incumbido de roubar a armadura de ouro de sagitário. Em meio às batalhas para reaver a armadura, os cavaleiros de bronze descobrem neta do Sr. Kido é a re-encarnação da Deusa Atena que renasce a cada duzentos anos para defender a Terra, e que há treze anos quase fora morta pelo Ares mestre do santuário, que planeja dominar o mundo.
Na primeira saga, Seiya e seus amigos enfrentam os cavaleiros negros, os cavaleiros de prata e os Cavaleiros de Ouro no santuário onde tem como objetivo salvar a vida de Atena, que teve o peito acertado por uma flecha.
Na segunda saga, eles enfrentam os Cavaleiros deuses de Asgard, em que o objetivo é tirar o anel de Nibelungo colocado no dedo de Hilda de Polares, responsável por orar ao Deus Odin, pedindo que ele não derreta as geleiras. Seiya e seus amigos têm que conquistar as sete safiras de Odin guardadas pelos cavaleiros deuses a tempo de salvar Atena que com seu cosmo tentar evitar que as geleiras derretam causando a inundação do mundo.
Na terceira saga, eles devem resgatar a Athena que foi raptada por Julian Solo que a pede em casamento. Como Atena recusa o pedido e ainda se coloca a favor dos humanos Julian a prende no pilar central da lendária cidade de Atlântida. Os cavaleiros de bronze têm que lutar contra o tempo, já que sob Atena cai toda a chuva que Poseidon queria jogar sobre a terra. Para salvar Saori eles terão que enfrentar os sete Generais Marinas.
Por fim começa a guerra santa quarta e última, e dessa vez os Cavaleiros de ouro enfrentam os espectros de Hades e seus antigos amigos. Pandora ordena que os cavaleiros renascidos levem a cabeça da Deusa a seu mestre Hades. Entre tantas batalhas eles seguem para o inferno para buscar Atena e salvar a Terra, que está se afundando nas trevas com o eclipse criado pelo Deus da Morte.


PICA-PAU
 Títulos: Knock Knock (Pica Pau), The Woody Woodpecker Show (O Pica-Pau e seus Amigos), The New Woody Woodpecker (O novo show do Pica-Pau).
Emissora: Extinta TV Tupi, Rede Globo, SBT e atualmente na Rede Record. Duração: 5 minutos por episódio.
Criação de: Walter Lantz
Ano de criação: 1940
Protagonistas: Pica-Pau, Pé de Pano, Zeca Urubu, Meany Ranheta e Leôncio.
Gênero: Desenho animado
Número de episódios: 243

SINOPSE: PICA-PAU

Pica-Pau é um personagem de desenho animado que surgiu em 1940, como coadjuvante no desenho Andy Panda e sua família em que era visto como um pássaro louco. Devido o tamanho sucesso Walter Lantz acabou criando uma série de desenho com o personagem que desde sua concepção nunca foi visto como herói.
Criado em uma época na qual a sátira à violência era frequentemente usada nos desenhos americanos, o pequeno ser antropomórfico (animal com corpo e características humanas) como o próprio nome já diz “Pica-Pau” narra as confusões criadas e vividas pelo personagem principal.

ANÁLISE:

A análise de comparação dos desenhos seguirá como base os dez mandamentos da TV, formulados por pais, através de uma pesquisa qualitativa encomendada pela Ong Mídiativa.
De acordo com os pais que participaram da pesquisa, um programa para ser considerado bom deve: ser atraente; gerar curiosidade; confirmar valores; ter fantasia; não ser apelativo; gerar identificação; mostrar a realidade; despertar o senso crítico; incentivar a autoestima e, principalmente, deve preparar para vida. Com base nos critérios levantados pelos país os desenhos Pica-Pau e Os Cavaleiros do Zodíaco serão confrontados.
A análise não tem como objetivo dizer que um desenho é melhor que o outro ou simplesmente mais violento. A análise buscará mostrar que ambos trabalham com a violência, mas que o pré-julgamento acaba marginalizando apenas um.
O desenho Pica-Pau se faz atraente por vários motivos: usa uma linguagem infantil, mostra ação, gera competições e também o riso.
Também pode ser considerado atraente por abordar em muitos de seus episódios fábulas já consagradas (como de “Chapeuzinho Vermelho” e “Os três porquinhos”) e temas que agradam aos adultos como vizinhos rabugentos e romances.
Em “Os cavaleiros do zodíaco” que para facilitar passaremos a chamar de CDZ, podemos encontrar ação, competições um linguajar jovem e o humor. As cores vivas e a história dividida em capítulos seriados também chama a atenção dos telespectadores. Notamos que o que diferencia um do outro é o uso dos temas: Pica-Pau se aproxima mais da realidade CDZ é mais ficcional.
O desenho Pica-Pau não atinge o critério de gerar curiosidade. Isso porque muitos de seus episódios abordam situações do dia-a-dia (como: a vivência com vizinhos e o pagamento de aluguel) ou fábulas já consagradas e conhecidas pelo público. E em CDZ se pode notar o surgimento da curiosidade pela cultura grega, hindu e nórdica. O que faz com que as crianças busquem conhecer as lendas e os mitos abordados no desenho (essa curiosidade gerada pelo animê foi a responsável pelo surgimento da revista “Herói” na década de 90, em seu número 36 chegou a vender 450.000.00 exemplares “REVISTA VEJA”).
Ambos os desenhos são produzidos com o caráter de entreter, mas em CDZ o despertar da curiosidade faz um diferencial que leva as crianças e os fãs em geral a buscar conhecimento.
O desenho Pica-Pau trabalha de uma forma muito negativa os valores na criança, mostrando seu personagem principal sempre se dando bem em relação aos outros personagens. No episódio “Pica-Pau mata gigante” em que Pica-Pau toma à força o castelo do gigante e ainda o transforma em seu empregado no final do episódio, os valores familiares também são distorcidos no desenho na maioria dos episódios em que seus sobrinhos aparecem Pica-Pau, transfere sua responsabilidade de ter que tomar conta dos sobrinhos, para o vigarista Zeca Urubu.
Em CDZ à todo momento, os valores são trabalhados como: a compaixão e a amizade. A família também é trabalhada no desenho, como a preocupação de Freya com as mudanças de comportamento de sua irmã Hilda de Polares, de Ikki com seu irmão mais novo Shun e até mesmo pela incessante busca de Seiya por Seika, sua irmã mais velha. A solidariedade da Deusa Athena com os humanos ao se doar pela humanidade em vários momentos.
O principal ponto negativo da obra Pica-Pau é a falta de valores que o personagem passa ao público, tais como falta de lealdade, de fraternidade, de responsabilidade.
Por se tratar de uma história com heróis, CDZ usa da fantasia mesmo que de uma forma mais real. Em outras palavras, o sonho de ser um superherói é trabalhado de uma maneira mais realista pelos japoneses, onde qualquer um pode se tornar um herói e conquistar seus sonhos, basta ter força de vontade.
A mesma fantasia não é utilizada em Pica-Pau que, na maioria das vezes, narra o cotidiano das pessoas, ou seja, o desenho não estimula as crianças a terem sonhos e muito menos a brincadeiras saudáveis já que na maioria dos episódios o uso de armas de fogo pode estimular o mesmo na vida real. Talvez o fator gerar fantasia não tenha sido dos propósito do desenho na sua concepção.
Pica-Pau é um desenho cuja violência é apelativa, ou seja, ela é tratada como cômica o que agrada aos às adultos e crianças. O uso de dinamites pelo personagem principal e de armas de fogo por outros personagens para causar risos são freqüente. Pode ser considerado apelativo ainda por expor outros personagens ao ridículo, explora a desgraça de outros personagens e ainda mostra o consumo de cigarro como no episódio “Pica-Pau Mata Gigante”.
CDZ não pode ser considerado apelativo e mesmo que faça uso da violência essa não é gratuita. “Os Cavaleiros do Zodíaco também conseguem falar de perto às crianças pelo tipo de violência que mostra na tela. As armas usadas não são pistolas a laser ou canhões mirabolantes, mas raios de energia que saem do corpo e são capazes de promover, por exemplo, choque intergaláctico”. (REVISTA VEJA 1995)
Essa mesma violência é questionada quase sempre pelo personagem Shun de Andrômeda, que na sua fase de treinamento preferia apanhar ao demonstrar sua força verdadeira como é mostrado na seguinte afirmação: (Shun) “- Mestre eu odeio os combates, não quero machucar ninguém, de fato eu estava despertando para o cosmo aos poucos enquanto eu recebia se treinamento, mas você sabe que sou contra tudo aquilo que significa violência”. (Episódio, 70 – “Durma em paz Shun”)
É possível encontrar nas duas obras audiovisuais uma identificação com seus personagens, seja ela, em Leôncio, o vizinho rabugento, ou em Shun a pessoa pacífica e gentil. O que diferencia os desenhos é a maneira em que os personagens são abordados e trabalhados, em Pica-Pau, por exemplo, os personagens sempre são estereotipados. Mas ambos desenhos nos fazem trabalhar confrontos atuais como, ter paciência com o próximo (relações entre vizinhos) ou o tratamento que se quer dar aos órfãos, incentivando a levar uma vida normal e batalhar pelos seus ideais.
Quando o quesito é mostrar a realidade da forma que os pais acreditam ser o melhor para seus filhos Pica-Pau sabe trabalhar melhor, ou seja; para os pais é importante que não se crie um mundo irreal; e Pica-Pau trabalha os conflitos entre vizinhos mal humorados, inquilinos inadimplentes e situações do dia-a-dia. Enquanto CDZ mostra a realidade de uma maneira mais ficcional, ou seja, tem como base a vida de pessoas comuns, mas mostra que é ficção ao trabalhar com a mitologia.
Para os pais, o programa deve levar seus filhos a um senso crítico e em CDZ esse pré-requisito é alcançado.  O senso crítico pode ser apontado em episódios que abordam outras culturas e tradições, como o fato narrado no episódio “Bado e Shido, os gêmeos do destino” que mostra uma tradição nórdica em que quando se nascia gêmeos uma das crianças trariam desgraça à família e para evitar era preciso sacrificar uma das crianças. O episódio leva a criança a analisar o valor de uma vida. Já Pica-Pau não desperta senso critico nas crianças, uma vez que o mesmo utiliza a esperteza para tirar vantagens nos demais personagens e no final na maioria das vezes leva a melhor como no episódio: “Caça ao Pica-Pau” (ver o ano do episódio) em que a ave destrói postes de telefonia e ainda agride funcionários, e no final acaba como dono da rede de telefonia.
Mesmo os desenhos sendo feitos com princípios de entreter para os pais eles devem também tratar a autoestima das crianças. Pica-Pau neste requísito mostra personagens estereotipados, como o malandro e o vizinho rabugento ou a mulher desesperadamente apaixonada no episódio “Pica-Pau e o pé de feijão” onde a princípio a ave tenta levantar a autoestima de Meany Ranheta, dizendo que ela não precisa fazer papel de coadjuvante para ganhar o Oscar, e no final se vê o desespero da personagem para casar com o filho do gigante. CDZ respeita os valores e as diferenças e ao não faz uso dos estereótipos, e a autoestima é trabalhada no desenho, por exemplo, nos diálogos que o personagem Ikki de Fênix tem com seus amigos e irmão, exemplo, no episódio, 88 “Harpa misteriosa, prelúdio tenta enviar Shun para morte”,  em que Shun se questiona se a paz nunca chegará mesmo que ele se esforce e Ikki por meio de seu cosmo responde: (Ikki) – Shun, não há resposta! A única coisa que podemos fazer é confiar no nosso futuro. É muito difícil eu sei, mas, nada haverá de restar se desistimos de tudo pensando deste jeito...”, ou através dos vários momentos que demonstra que todos são capazes de realizar milagres em suas vidas, como no episódio “Viva a amizade! Longa vida lendários cavaleiros”, em que Seiya se lança contra o pilar central do Reino de Poseidon considerado indestrutível.
O desenho animado Pica-Pau não prepara ou dá direcionamento mostrando opções de vida que levem algum discernimento para quem o assiste, por um outro lado o personagem principal mostra a necessidade de se ter jogo de cintura para lidar com certas ocasiões, entretanto faz isso de forma distorcida.
Todavia em o animê CDZ busca mostrar valores que servem para se viver o dia – a – dia como: o apoio dos amigos; as crenças; os problemas sociais (o fato de os protagonistas serem órfãos) e principalmente a persistência em seus ideais. É uma tendência das histórias japonesas trabalhar a autoestima e preparar para a vida.
Seguindo os dez mandamentos citados pela Ong. Midiativa, a obra audiovisual que mais se aproxima de ser considerado um produto de qualidade seria CDZ, já que Pica-Pau não atende aos seguintes requisitos: não gera curiosidade; não confirma valores; é apelativo e usa a autoestima de forma distorcida além de não preparar para vida. Todavia CDZ se faz atraente; gera curiosidade; confirma valores; tem fantasia; gera identificação; desperta senso crítico, incentiva a autoestima e prepara a vida. Dos dez mandamentos se distancia somente do requisito não ser apelativo, pois faz uso da violência e do requisito mostrar a realidade, pois é uma obra ficcional.
As músicas ou trilhas em ambos os desenhos são pontos marcantes que fazem com que seus fãs logo as conheçam. Porém em Pica – Pau, as trilhas servem apenas de BG para os episódios, enquanto que em Cavalheiros, além das trilhas o forte fica mesmo com seus temas de abertura e encerramento, com letras que remetem uma reflexão. Ex: Chikyuugi (na versão em português) “Não vou esperar que o mundo irá mudar tão depressa assim, a luz dominar...”. A música narra a importância de não desistir mesmo quando tudo parece estar perdido. (Tema de abertura da Saga de Hades/Santuário).




Os dois desenhos estimulam competições em Pica – Pau notamos que o personagem principal vive criando competições com seu vizinho Leôncio, como na competição em que ele e Leôncio competem para ver quem ganhará um ingresso de Minie. Em CDZ as competições começam com a guerra galáctica, depois fica meio que de lado.
As competições de ambos os desenhos são instrumentos de reflexões mais aprofundadas que não cabem nessa análise.
Os desenhos CDZ e Pica-Pau trabalham vários sentimentos na criança e nos telespectadores, Pica-Pau enfatiza o fator entretenimento, a “descontração” e o sentimento de alegria se faz presente até mesmo na risada sarcástica da ave, a satisfação também é um ponto forte do desenho mesmo que seja ela trabalhada de maneira negativa. Porém em CDZ notamos vários sentimentos como o da amizade, (em quase todo o desenho), a raiva dos deuses de se verem vencidos por seres normais (Filme o Prólogo do Céu), a tristeza (episódio em que Hyoga mata seu mestre para se defender), saudades (momentos diversos em que Shunrei nos cinco picos de Rozam reza por Shiryu, ou Hyoga mergulhando no mar da Sibéria para ver sua mãe) entre outros como compreensão, fraternidade, etc.
A justiça é algo quase irreal nos episódios de Pica-Pau, uma vez que o personagem principal quase sempre leva a melhor.
Como no episódio “O afanador de gasolina” em que Pica-Pau furta combustível, agride o policial, e mesmo depois de mortos no céu leva a melhor sobre o policial ganhando uma asa de anjo maior. Em CDZ, os cinco cavaleiros de bronze estão sempre lutando em prol da justiça e pela humanidade. Seiya quase sempre faz uso da flecha, da armadura de sagitário (conhecida como flecha da justiça) para salvar Saori e a humanidade.
Alguns conceitos são trabalhados nos desenhos e esses fazem a diferença em Pica-Pau, a felicidade é apontada sempre que a ave se dá bem, mesmo se essa felicidade for fruto de sua malandragem, em CDZ a felicidade se faz presente de uma maneira mais humana, como no episódio em que Shiryu volta a enxergar nas 12 casas do zodíaco (buscar dialogo e nome do episódio). O amor é tratado de maneira sarcástica em Pica-Pau, como no episódio “Pica-Pau e o Pé de Feijão”, em que Meany Ranheta esquece de seus problemas e corre apaixonada atrás do filho do gigante, enquanto esse foge apavorado. Em CDZ, o amor se aproxima da realidade, seja no amor fraternal de Hyoga com sua mãe, seja no amor da Deusa Athena com os humanos, ou no amor de Shina por Seiya cheio de conflitos (rejeição).
No Pica-Pau, várias cenas fazem o uso da violência, onde podemos ver o uso de explosivos, de facas, de armas de fogo, do fogo como arma e da injeção para ferir entre outros atos de violência.
Em CDZ a violência mesmo que contextualizada não pode ser considerada a mais correta; a trama é ficcional. Mas mesmo como ficção ela faz uso da violência, o ponto forte fica no fato que o uso de armas são proibidas pela Deusa Athena.
Um fator importante que se destaca em ambos os desenhos é que eles não trabalham com a lei do mais forte. Pica-Pau mostra que o jogo de cintura e malandragem é superior a qualquer inimigo maior do que ele e CDZ mostra que não existe um ser mais forte e que a força de vontade e a fé são fatores importantes para se vencer na vida.
Uma outra forma de violência usada nos dois desenhos é a violência mental; Pica-Pau sempre vence seu vizinho Leôncio pelo cansaço físico e mental e em CDZ a violência mental é usada em diálogos nos quais os personagens tentam desarmar emocionalmente seus adversários, ex: na luta Ikki contra o general marina Kasa de Lymnades em que o general testa o emocional do cavaleiro de bronze ao assumir a aparência de seu irmão Shun.
Os desenhos são enlatados e cada qual, obedece a regras culturais de seus países de origem, e também formatos diferentes, um mostra a malandragem de um personagem central e outro mostra cinco heróis que lutam para salvar a humanidade de Deuses invejosos ou vingativos. Então apontar que um é melhor ou pior que o outro seria um grande erro, mesmo que Pica-Pau não se enquadre no padrão dos dez mandamentos para um bom programa de TV, isso não o transforma no vilão de TV, já que o mesmo em seu país de origem foi considerado politicamente incorreto, o erro está na hora de classificarem seus horários de veiculação. Erro esse que não é cometido com os animês que para ter classificação livre são mutilados pela censura.
Um bom exemplo das tesouras do governo foi a volta de CDZ, aos canais abertos, a TV Bandeirante só conseguiu sair na frente pela compra dos diretos de exibição, porque se propôs a veicular o animê após as 18 horas. Uma das exigências da empresa que distribuía os diretos de imagens era que o animê não poderia sofrer cortes, o que fez com que outras emissoras que transmitem suas grades infantis, no horário matutino, se retirassem da disputa. Toda via em seu regresso a TV aberta CDZ, teve apenas seus primeiros episódios exibidos na integra. O governo por meio da portaria 1220/07 conseguiu mais uma vez mutilar um animê.
Esse fato demonstra como evidentemente pré conceito, sobre as obras japonesas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Antes de mencionar qualquer coisa sobre a televisão é preciso mostrar que a TV é um meio midiático e esse na sua essência carrega valores financeiros bem maiores que as funções de informar e entreter.
Muitos têm uma visão apocalíptica da TV e a coloca como um titã do mundo pós-moderno. A autora CHAUI (1985) coloca a televisão como a grande responsável por transformar tudo em entretenimento.
A autora carrega em seus ideais fatores negativos da televisão que devem realmente ser revistos, como, o fato de transformar tudo em um grande simulacro. Isso pode prejudicar na educação de algumas crianças que ainda são educadas diante à TV.
        Os adultos muitas vezes questionam o fato de alguns desenhos animados conterem cenas que possam estimular a violência na criança, mas não questionam quando um telejornal divulga cenas de violência em horário livre. Todos sabemos que não existe censura no país, mas deveria existir ao menos o bom senso.
O mesmo bom senso que ficou de fora quando o Ministério Público colocou em vigor a portaria 1220/07 em que se pode encontrar no 5º artigo:

Art. 5º. Não se sujeitam à classificação indicativa no âmbito do Ministério da Justiça as seguintes obras audiovisuais:
I – programas jornalísticos ou noticiosos;
II – programas esportivos;
III – programas ou propagandas eleitorais; e
IV – publicidade em geral, incluídas as vinculadas à programação. (MINISTÉRIO PÚBLICO, 2007, p.3)

Por que o Ministério se preocupa tanto em usar suas “tesouras” nos desenhos japoneses e não tem a mesma preocupação com os telejornais que as crianças julgam ser violentos?
Apenas por citação entre os desenhos mutilados pelo governo, temos a série Dragon Ball, que ficou for do ar na Rede Globo, por um tempo para ter seu conteúdo readaptado para o horário matutino e Fullmetal Alchemist, o último que tinha um tempo médio de episódio de 24 minutos, tem episódios que chegou a ter 17 minutos, graças às tesouras do Ministério Público.
Em quase toda a análise comparativa, notamos que o desenho animado Pica-Pau se mostrou impróprio diante aos dez mandamentos de qualidade criados pelos pais, mandamentos esses que se chocam nos quesitos ter fantasia e mostrar a realidade, ou seja, quase impossível trabalhar com os dois pré-requisitos ao mesmo tempo.
A grande pergunta é por que desenhos como Pica-Pau, Pernalonga entre outros desenhos norteamericanos não sofrem o peso da tesoura do Ministério Público e desenhos Dragon B., Cavaleiros do Zodíaco, Naruto entre outras obras japonesas têm cenas mutiladas?
A violência faz parte de ambas as culturas, porém muitos pais cresceram assistindo aos desenhos americanos e desconhecem o teor dos animês. Sendo assim, é mais fácil pré- julgar os animês e concordar com o Ministério Público do que buscar conhecer o conteúdo das obras audiovisuais japonesas.
O que acontece muitas vezes é o fato da descontextualização, ou seja, os desenhos japoneses que são julgados violentos para nossos padrões culturais, têm uma contextualização diferenciada da nossa em seu país de origem. No Japão, os animês são produzidos visando um público-alvo, como: sexo e idade e são veiculados em horários pré-determinados; já no Brasil, na maioria das vezes são usados como “tapa buracos” nas programações.
Talvez essas preocupações acabem quando os pais, o Governo e os produtores passarem a olhar as crianças como “um ser histórico que produz cultura” (MAGALHÃES, 2007, p.54).
O que acontece é que os pais desvalorizam a televisão e a coloca como um monstro diante da educação de seus filhos, mas mesmo assim deixa que esse aparelho eletrônico seja companheiro inseparável de seus filhos. Já o Governo persegue a minoria e deixa de lado os grandes monstros televisivos, também conhecidos por jornalismo sensacionalista e os responsáveis por esses programas como mencionados acima buscam muito mais que entreter e informar procura valores financeiros alcançados somente com altos índices no IBOPE.
Sem mencionar que o “conhecer é a busca do pleno entendimento. No entanto, o pleno conhecimento é dependente de uma realidade conceitualizada por meio de sua experiência individual” (MAGALHÃES, 2007, p.45). Entretanto, muitas vezes se esquece que cada ser tem o direto a sua própria identidade e a prova disso é a superproteção criada em volta das crianças. Não se pode simplesmente deixá-las viver em um mundo cor de rosa onde não exista violência alguma.
Os desenhos frequentemente mostram o lado do bem e o do mal, e certas cenas acabam sendo necessárias para demonstrar esses valores.
A pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa em Educação e Mídia (GRUPEM), veiculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC - Rio nos mostra que as crianças não são pacificamente afetadas pela agulha hipodérmica, o que me leva a afirmar que não podemos simplesmente achar que a televisão seja uma vilã na educação e na formação de valores infantis.
Devemos fazer uma triagem, analisar profundamente os conteúdos veiculados, mas não deixando que os “direitos psíquicos, que se referem aos direitos intrínsecos da personalidade, a integridade psíquica, em que se incluem a liberdade, a intimidade e o sigilo” (BITTAR, apud BARBOSA, 1999, p. 34) prejudiquem o individuo impondo uma censura de superproteção e da ignorância por falta de conhecimento da cultura japonesa.

REFERENCIAIS:

BARBOSA, Alexandre. Quadrinhos japoneses: uma perspectiva histórica e ficcional. LUYTEN (org), Cultura pop japonesa. São Paulo. Editora Hedra LTDA. 2005. p. 116.

BARBOSA, Silvio Henrique Vieira, Imprensa e Censura: As ameaças do Direito à informação, 1999. 98 f. Mestrado em Teoria Geral do Direito – Universidade de São Paulo, Faculdade de Direito, 1999. p. 34

DELORME, Maria Inês Carvalho. Televisão e consumo pelo ponto de vista das crianças. DUARTE (org). A televisão pelo olhar das crianças. São Paulo: Editora Cortez, 2008. p.  133.

DUARTE, Rosália; MIGLIORA, Rita; LEITE, Camila O que as crianças pensam sobre o que aprendem com a tevê. DUARTE (org). A televisão pelo olhar das crianças. São Paulo: Editora Cortez, 2008. p. 104.

GOMES, Itânia Maria Mota. Ingenuidade e recepção: as relações da criança com a tv. [199-?] Disponível em: . Acesso em: 20 de maio 2006.

GOVERNO FEDERAL Ministério da Justiça: Portaria 1220/07. Brasília, 2007. p.3.

MAGALHÃES, Cláudio Márcio. Os programas infantis da TV: Teoria e prática para entreter a televisão feita para as crianças. São Paulo: Editora Autêntica, 2007. p. 45, 54.

MIDIATIVA, Ong. (Centro brasileiro de mídia para criança e adolescente), Disponível em: <http://www.midiativa.tv/blog/?p=216>. Acesso em: 11 de jun. 2009.

MIGLIORA, Rita; SANTOS, Fernando Rodrigo dos; NÉRI, Gleilcelene Gomes O que as crianças pensam sobre os telejornais. DUARTE (org). A televisão pelo olhar das crianças. São Paulo: Editora Cortez, 2008. p. 162.

ROCHA, Raquel S; COTTA, Roberto R. M.; SOUZA, Scheilla F. de. Perspectivas da Televisão Infantil: uma análise do termo ‘babá eletrônica’ numa escola privada de Itabuna-Ba. In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. 2006. Salvador – Bahia: INTERCOM. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2007/resumos/R0482-2.pdf>. Acesso em: 11 de jun. 2009.

SATO, Cristiane A. A cultura popular japonesa: animê. LUYTEN (org), Cultura pop japonesa. São Paulo. Editora Hedra LTDA. 2005. p. 30 - 32.

VEJA, Revista. Saindo do inferno astral, São Paulo, novembro. 1994

Apêndice:
CARDOZO, Kleber Rodrigues; SILVA, Robson Marcelho. Censura: ato de preservar ou delimitar o direito de escolha. In: Iniciação Cientifica FATEA, 2008 Lorena. Anais... São Paulo: FATEA. (anais número de pagina).