Era notório que naquele dia nada
seria realizado de maneira racional. Era como se o azul do céu sincroniza-se
com o vermelho gritante de um coração que já não sobrevive sem emoção.
Ele virou-se, olhou para o lado e
ignorou os ponteiros daquele velho relógio tic tac parecido com o de sua avó,
uma velha sistemática, cheia de costumes estranhos, como o de ir todos os sábados,
até o cemitério da cidade para sentar-se horas e horas do lado da sepultura de
seu falecido esposo e narrar para ele todos os acontecimentos da semana, como
fazia quando o esposo ainda vivo chegava de viagem com o velho caminhão empoeirado.
Entretanto naquele dia ele não
queria lembrar-se de estórias tristes ou de loucuras familiares, seu coração
palpitava por uma felicidade impossível de se imaginar. Foi então que sentou-se
na quina da cama, jogou os braços para cima em um leve despreguiçar, quando de
repente ouviu um barulho diferente daquele que estava acostumado a escutar em
cada amanhecer. O velho sino da matriz talvez estivesse quebrado ou quem sabe o
sacristão tinha se esquecido de suas responsabilidades. Mas a ausência do velho
sino passava despercebida, dava lugar a sons diferenciados, o silêncio era preenchido
por ventos fortes.
Aquela sem dúvida era uma manhã
diferente, a noite anterior tinha sido inesquecível, Sua primeira vez tinha
sido formidável. A maciez dos lençóis ainda era algo prazeroso de apalpar, era
como tactear a pele macia de um recém nascido.
Foi então que caminhou até a
velha janela de madeira e com muita força conseguiu abri-la, a vista era como
um sonho, jamais tinha visto tamanha beleza, era tudo bem diferente do que
tinha sonhado. Em seus sonhos nunca, foi capaz de desenhar tamanha magnitude,
somente o criador era capaz de esculpir tanta beleza.
Foi neste instante que olhou para
a cama e viu que a sua razão de viver, também era uma das maravilhas criadas
pelo mais belo bom gosto do Criado. Sua curvas assimétricas davam certo
destaque naquele lençol branco, seus cabelos cobriam metade se seu rosto, era
possível ver aqueles lábios vermelhos, cheios de paixão.
Era o inicio de uma vida a dois,
a lua de mel, esperada por todos enamorados. Nada poderia estragar aquele
momento, a única dúvida era se observava as belas ondas do mar que quebravam na
beira da praia ou a sereia desnuda em sua cama esperando pela continuação da
noite anterior. De repente sentiu que poderia fazer os dois ao mesmo tempo
olhou para sua esposa e propôs: - Meu amor que tal nos amamos em uma praia
deserta e deixar que a natureza nos permita ser parte dela. Pois em Minas no máximo
que veremos será a beleza um do outro.