Às
vezes fico me perguntando porque só damos atenção para assuntos sérios quando
eles se tornam modinhas, ou pautas polêmicas para o dia a dia? Não existe
problema em ser pauta polêmica e sim em ser superficial o que leva ao
esquecimento assim que outro suposto desastre social ocorra.
No
Japão temas como o bullying e o suicídio entre os jovens são abordados há anos em
mangás e animes. Uma pesquisa divulgada BBC News, aponta a preocupação com o
retorno as aulas no dia 1 de setembro, data em que o número de suicídio de jovens
com idade entre 10 e 19 anos é
frequente. Mas pergunto alguém aqui já leu sobre isso. COM CERTEZA NÃO! (leia a matéria inteira)
Crescemos
em uma sociedade do descarte, em que não nos chocamos com noticias do tipo: Mais
um jovem cometeu suicídio. No máximo, lemos as notícias superficiais que
apontam as possíveis causas da tragédia, com intuito de achar um culpado ou
simplesmente que demonstre a razão da fraqueza do adolescente em tirar sua
vida.
Vivemos
em uma sociedade cruel que leva aos jovens (e não só os jovens) a acreditarem
que não existe razão para existência humana e a vida é apenas instrumento de
dor e decepção, ou satirizando: “o ser humano é apenas alimento” como no filme Matrix.
Por falar em filme, vou lembrar de alguns produtos midiáticos para expressar o
porquê sempre lemos tudo superficialmente.
Alguém
aqui se lembra de um cartoon chamado “A vaca e o Frango”? deste cartoon da década de 90 aponto dois pontos
importantes e negligenciado pela leitura superficial que leva apenas a rir das
bizarrices do desenho. Primeiro a vaca que indiretamente sofria bullying pela
sua ingenuidade e cria um avatar, ou seja, um alter ego a “supervaca” que vive
salvando o irmão (o frango) de um personagem que faz referências ao demônio.
Segundo na grande maioria dos episódios o frango escreve em um diário a
seguinte frase: “Caro diário você não vai acreditar no que estou preste a escrever
em você. Não vai mesmo”. O que deixa subentendido a solidão do personagem.
Entretanto os risos fazem com que ignoremos o fato. Na verdade, a grande
maioria dos cartoon que assimilamos da cultura americana ou não trazem
mensagens construtivas ou transformam valores em algo sem importância. Um outro
exemplo, é o desenho Os Jovens Titãs em ação. Em um dos episódios - Garoto Fantasma - Mutano trola
a Estelar como se fosse um fantasma, no final todos morrem em um vulcão para
trolar o Mutano que também acaba morrendo, banalizando a vida.
Por
que quando esse tema é abordado com mais seriedade acaba caindo na modinha ou
simplesmente nas discussões polemicas das redes sociais? Como é o caso da série
13 Reasons Why,
disponível na Netflix.
Assisti a série e confesso que algumas cenas como a do suicídio
eu não fui capaz de ver. No entanto o suicídio (sem banalizar aqui a existência
e a importância da vida) é apenas o ápice de uma sequência de mal entendidos e
de torturas físicas e psicológicas.
A série me remeteu á dois álbuns da Legião Urbana ( A Tempestade ou O Livro dos dias e Uma outra Estação) que de início seriam apenas um
álbum duplo, mas considerado muito depressivo deixou várias músicas de fora, e essas
foram lançadas como um CD Póstumo um ano após Renato Russo falecer. Tá mas, o
que a série tem a ver com esses álbuns? Primeiramente pelo fato de que elas
expressam a dor de alguém que está no final da vida, contando os dias para
morrer. O verso de A via Láctea “ Queria
ser como os outros e rir das desgraças da vida, ou fingir estar
sempre bem. Ver a leveza das coisas com humor” para mim é um
soneto a depressão, expressa a mais profunda dor de quem está perdido e não sabe
seu caminho. Assim como Hannah Baker.
Talvez, simplesmente talvez, o
pedido de socorro dela na escola ou com os amigos não teriam mudado sua dor,
mas poderia ter levado a
reflexão. Em Aloha Renato Russo diz:
“A juventude está sozinha não há ninguém
para ajudar a explicar por que é que o mundo é este desastre que
aí está”. Sim a juventude está sozinha, nas escolas notamos os abusos
verbais, psicológicos e em alguns casos fiscos e fazem como a ficção da série
mostrou: um conselheiro aconselhando a tentar esquecer. Ignorando o fato do
abuso e a dor psicológica da adolescente. Confesso que essa cena para mim foi a
mais forte de todas abordadas na série.
Por que temos a mania de achar que dores psicológicas são
dramas ou frescuras que se podem simplesmente tirar do peito como se tira
facilmente a calcinha ou a cueca de um (a) jovem fragilizado (a). Desculpem peguei
pesado vou reescrever. Por que as pessoas acham que as dores enraizadas na alma
são frescuras e se pode supera-las com facilidades?
Certa vez um Frei da Fazenda da Esperança disse em uma missa:
“Depressão é falta de oração, busque Maria nas orações e tire isso de você.
Lembre-se depressão é falta de oração. Aquilo me doeu os ouvidos e a alma.
Minha vontade era ir até ele e dizer: Você quer dizer então que o Monsenhor
Jonas Abib não reza? Ridículo a atitude do sacerdote. Abro parentes aqui para
reportar que recentemente existe uma preocupação com o número de sacerdotes que
comentem suicídio, devido a depressão.
Renato Russo em uma letra fortíssima expressa o último
estágio da depressão, será que ninguém nunca refletiu com Clarisse?
A canção toda carrega dor, mas para mim o trecho mais
expressivo é: “E a dor é menor
do que parece quando ela se corta, ela se esquece”. Como assim gente será
que ela é masoquistas e acredita que uma dor faz esquecer da outra? Não, é que
a dor da solidão, do desespero, da inexistência é imensurável talvez por isso
quem não entende chama de frescura ou drama
Para mim Clarisse pode ser apontada como base para série
original da Netflix com um diferencial, Hannah deixou as fitas.
E por qual razão Clarisse não serviu de inspiração para uma
geração? Fácil a canção jamais seria tocada em FMs por não ter um padrão
comercial e porquê já havia sido censurada por ser depressiva. Mas será que a
depressão hoje não é mais um tabu? Não, não é, mas continua sendo negligenciada
até que o extremo aconteça.